Vivi, e vivi muito bem, quase toda a minha vida só com uma chave. Tudo o que de meu podia querer guardar se alcançava através dela. A chave de porta de minha casa.
Recebi-a, depois de terminar a quarta classe ainda nos anos oitenta, num cordão vermelho de pendurar ao pescoço...
Cordão vermelho de jogar à bola.
Cordão vermelho de ir à escola e à piscina.
E parado à porta de casa, puxava o cordão e a chave saltava de dentro da camisola para a respectiva fechadura... abre-te sésamo.
Com o passar dos anos, novas chaves – a do correio, a do carro, etc. – se somaram à anterior que do pescoço passou para o bolso. Cada uma, uma conquista.
Hoje, 2006, Madrid, 3 chaves para entrar no escritório, 3 chaves para entrar em casa de amigos, 1 chave para a bicicleta, 2 chaves para entrar no meu prédio, 3 chaves para abrir a porta de casa, 1 chave para recolher o correio, 1 chave para aceder às arrecadações. Tudo de oferta, sem luta nem desejo...
Lamento a paranóia que provoca esta proliferação de fechaduras e chaves, lamento o peso que carrego e lamento o tempo que em voltas de fechaduras perco! Combinações, voltas e mais voltas.
...mas mais que tudo, lamento que tenham chegado todas ao mesmo tempo.